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23 Outubro 2009

Leio nos jornais que Izmailov está determinado a abdicar (ou deverei dizer “adicar”?) dos ordenados enquanto não estiver refeito da respectiva lesão – e de novo lamento o estado a que estamos a chegar. Uma pessoa saudável que olhe para o Sporting de hoje tem às vezes a impressão de que o clube mergulhou de vez numa espécie de hipnose colectiva: uma folie a plusieurs que ataca dirigentes, treinadores, aparentemente até jogadores – e de certeza absoluta também uma boa parte dos jornalistas que faz o acompanhamento quotidiano da actualidade do clube.

Se Marat Izmailov efectivamente pretende desistir dos ordenados correspondentes ao período de convalescença após a operação ao joelho direito, então não é um bom funcionário devidamente sensibilizado para as dificuldades financeiras do clube: é apenas um tonto que nem sequer percebe que são as companhias de seguros (de resto, já ressarcidas à cabeça) a pagar o ordenado de um jogador lesionado.
E, no entanto, eu sei que ele não é um tonto. Nem ele nem (muito menos) o seu empresário, Paulo Barbosa. Pelo contrário, perceberam ambos que esta era uma boa forma de recolocar o nome Izmailov nas primeiras páginas, gerindo a expectativa em relação ao seu regresso à competição – e que, a meio da semana, convencer os jornalistas a escolherem o tema para manchete era, na verdade, a coisa mais fácil de todas (até porque, no passado, o colombiano Redondo e o italiano Tomassi haviam operado golpes publicitários semelhantes).
Não devemos levar-lhes a mal: é gente completamente estupefacta, ela própria, com o desnorte que se vive por esta altura no Sporting. Fala-se em “Boavistização”, mas a metáfora é má. O cenário é tão distante que não chega a ter cabimento. Não acredito, bem vistas as coisas, que o Sporting acabe como o Boavista. Nem sequer acredito que o Sporting acabe como o Belenenses.
Mas estou em crer que não tarda o Sporting está como o Sporting de Braga, o Vitória de Guimarães, o Marítimo da Madeira. De certa forma, era inevitável que isso acontecesse a um dos chamados clubes grandes. Portugal é demasiado pequeno para uma tricefalia. Terão de ficar apenas dois, de resto alcandorados numa identidade regional (um do Porto e um de Lisboa).
Ora, o Benfica tem mercado – e, quando não o tem, inventa-o. Já o Sporting tem-no menos, como sabemos – e, em vez de inventá-lo, tenta desesperadamente maximizar aquilo que lhe resta. É uma postura voluntariosa, cheia de boa vontade – e, aliás, indubitavelmente séria. Mas é também uma postura comezinha, sem a grandeza necessária ao comboio da frente.
No contexto em que hoje vive, o Sporting simplesmente não pode dar-se ao luxo de deixar divulgar notícias como esta de Izmailov. Se se tratasse ainda de Redondo e do Milan AC, aquilo que um leitor leria era: “Grande homem, este Redondo. E grande clube, este Milan, que inspira os jogadores a gestos de tal natureza.” Tratando-se do Sporting, o que se lê é: “Coitado do rapaz. E ainda por cima aí está o Bettencourt, todo contentinho porque vai poupar mais sessenta mil euritos…”

CRÓNICA DE FUTEBOL ("Futebol: Mesmo"). Jornal de Notícias, 23 de Outubro de 2009


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Joel Neto nasceu em Angra do Heroísmo, em 1974. Publicou “O Terceiro Servo” (romance, 2000), “O Citroën Que Escrevia Novelas Mexicanas” (contos, 2002), “Al-Jazeera, Meu Amor” (crónicas, 2003), “José Mourinho, O Vencedor” (biografia, 2004), "Todos Nascemos Benfiquistas – Mas Depois Alguns Crescem" (crónicas, 2007) e "Crónica de Ouro do Futebol Português" (obra colectiva, 2008). Está traduzido em Inglaterra e na Polónia, editado no Brasil e representado em antologias em Espanha, Itália e Brasil, para além de Portugal. Jornalista, tem trabalhado na imprensa escrita, na televisão e na rádio, como repórter, cronista, comentador, apresentador e autor de conteúdos. (saber mais)
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