Passei a tarde de ontem a tomar notas. “Uma forma de dizê-lo é: foi preciso esperar dez anos para falharmos, finalmente, a final de uma grande competição. Outra é: bastou contratar Carlos Queiroz para falharmos, finalmente, a final de uma grande competição.”
Não o escondo: no momento da chegada de Queiroz, fiquei com a convicção de que Portugal não conseguiria chegar ao Campeonato do Mundo; ao longo dos pobres resultados e das paupérrimas exibições nos primeiros dois terços da fase de grupos, fiquei com a certeza quase absoluta de que Portugal não chegaria lá; após o inenarrável Portugal-Bósnia, de que apenas por milagre não saímos claramente derrotados (de resto, no nosso próprio terreno), fiquei com a impressão até de que o ideal era mesmo não ir à África do Sul, tal a humilhação a que nos arriscávamos.
Ontem, mudou muita coisa. Ao longo daqueles 90 minutos, risquei sucessivamente as acusações aos jogadores, as denúncias de incompetência do seleccionador, até as críticas ao jogo de equilíbrios de Madaíl. Em Zenica, e mesmo sem Ronaldo, Portugal foi muito do que não era desde Scolari.
Junto-me ao coro de celebração, pois. Mas não mudou tudo – nem, aliás, Portugal foi tudo o que já fora. E é bom que o projecto do “professor” não seja mesmo a dez anos. Bastam oito meses de projecto: o suficiente para uma participação condigna no Mundial. Quanto a mais do que isso, estou céptico. Chamem-me nomes.
COMENTÁRIO. Jornal de Notícias, 19 de Novembro de 2009