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13 Novembro 2009

1. Vale a pena esquecer os excessos, passar por cima dos ajustes de contas e concentrarmo-nos no futuro, agora que Paulo Bento e Pedro Barbosa caíram? Sim e não. Vale a pena, por exemplo, dar uma segunda oportunidade a José Eduardo Bettencourt. Refém daquela impensada coisa do “forever”, Bettencourt passou as últimas semanas a espernear, com vícios de linguagem absolutamente inadmissíveis para alguém na sua posição – mas estava sob enorme pressão e não deve, provavelmente, ser alvo de mais do que de cartão amarelo. Com Paulo Bento, é diferente. No próprio dia em que acertou a rescisão com o Sporting, o treinador foi à TVI e disse uma coisa importantíssima que muito pouca gente escutou: “As pessoas [do Sporting] têm de saber o que querem e o que querem dizer aos adeptos.” Ou seja: ele sabia – e foi porque nós, eu e tantos outros, sabíamos que ele sabia que há muito tempo deixámos de condescender com ele. Ele sabia que o Sporting não tinha meios para ser campeão (ou sequer para defender-se ao nível da sua tradição). Ele sabia que o discurso oficial do clube, insistindo na tónica de que o Sporting era candidato ao título, era desonesto e injusto para com os sócios e os adeptos. Não obstante, nunca deu sinais de lutar internamente pelo reforço dos meios – e muito menos alguma vez ajudou a relativizar, para o público, essas supostas candidaturas. Mesmo tendo operado pequenos milagres, foi infinitamente culpado: por negligência, por omissão, por egoísmo. E é desconcertante que em tantas sondagens, estudos e votações, apareça agora como um mártir.

 

2. O fim da era Paulo Bento tem agora de significar uma mudança de discurso e de atitude, não apenas uma mudança de rostos. Ponto um: se o Sporting não pode ser campeão (ou se não o pode mais do que o Sp. Braga ou o V. Guimarães, por exemplo), é preciso dizê-lo claramente aos sócios e aos adeptos: “Estamos e vamos estar, pelo menos durante mais uns anos, ao nível do Braga. Aguentemo-nos.” Ponto dois: se o Sporting decidir assumir-se como candidato a campeão (não este ano, claro), então tem de acabar com o discurso das “dificuldades orçamentais” e fazer aquilo que qualquer clube moderno procura fazer, que é criar novas formas de rendimento em vez de gerir-se a si próprio como uma mercearia (ou seja: de controlar o orçamento pelo lado da receita também, e não apenas da despesa). E vai ter de mexer profundamente no plantel, primeiro na fase de Inverno, depois no próximo defeso. Para já, são urgentes dois laterais (um para cada lado), um defesa-central, um médio-ala direito e um avançado. Para o defeso, são essenciais um guarda-redes, mais um lateral-direito, mais um defesa-central, um médio-ala esquerdo e mais um avançado. Falo, em ambos os casos, de titulares indiscutíveis, não de suplentes em potencial. Para sair de imediato: Pedro Silva, Caneira, André Marques, Angulo e Saleiro. Nenhum deles tem condições para jogar no Sporting (repito: nenhum deles tem condições para jogar no Sporting). Para sair no Verão: Ricardo Baptista, Abel, Polga, Caicedo e Postiga. Impensável, tudo isto? Então sejam claros connosco: “Estamos e vamos estar, pelo menos durante mais uns anos, ao nível do Braga. Aguentemo-nos.”

CRÓNICA DE FUTEBOL ("Futebol: Mesmo"). Jornal de Notícias, 13 de Novembro de 2009

publicado por JN às 10:22

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Joel Neto nasceu em Angra do Heroísmo, em 1974. Publicou “O Terceiro Servo” (romance, 2000), “O Citroën Que Escrevia Novelas Mexicanas” (contos, 2002), “Al-Jazeera, Meu Amor” (crónicas, 2003), “José Mourinho, O Vencedor” (biografia, 2004), "Todos Nascemos Benfiquistas – Mas Depois Alguns Crescem" (crónicas, 2007) e "Crónica de Ouro do Futebol Português" (obra colectiva, 2008). Está traduzido em Inglaterra e na Polónia, editado no Brasil e representado em antologias em Espanha, Itália e Brasil, para além de Portugal. Jornalista, tem trabalhado na imprensa escrita, na televisão e na rádio, como repórter, cronista, comentador, apresentador e autor de conteúdos. (saber mais)
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