ler mais...
21 Agosto 2009

Esta semana estamos em lua de mel com o Sporting – e, até certo ponto, há razões para isso. Tirando o absurdo do gesto individual de Vukcevic, cujo talento excede amplamente a inteligência, o Sporting jogou bem contra a Fiorentina. Mostrou um desejo que há muito não se lhe via, provou que também é capaz de contratar bons jogadores (Matias Fernández deve ser a melhor contratação desde Liedson) e, no fim, apenas empatou porque foi clara, desgraçada e persistentemente prejudicado pelo árbitro, que o perseguiu do primeiro ao último minuto com más decisões técnicas, péssimas decisões disciplinares e uma terrível gestão do relógio.

Mas não nos deixemos enganar: este fim-de-semana estaremos de volta ao desmazelo e, inevitavelmente, à incompetência. E, se não for este fim-de-semana, é na terça-feira. E, se não for na terça-feira, é no fim-de-semana seguinte. Não era assim Pedro Barbosa: um jogador capaz de arrancar um grande jogo por mês, mas depois afundando-se progressivamente no lodo da negligência, da falta de vontade e da alienação? Pois assim é o Sporting de hoje. Não de hoje, 21 de Agosto de 2009: de hoje, segunda metade da primeira década do século XXI. Uma equipa para a qual, se der, deu; se não der, não deu. Uma equipa exactamente à imagem do jogador que um dia foi o seu actual director desportivo.
Temos subvalorizado o papel de Pedro Barbosa no Sporting. Silencioso, quase obscuro, Barbosa está a quilómetros do estatuto de superstar de que Rui Costa goza no Benfica. E, no entanto, passa tudo por ali. Passa e continuará a passar enquanto Miguel Ribeiro Teles, com conhecimento limitado do jogo, continuar a tutelar a pasta do futebol. É a Pedro Barbosa que a Direcção, interessada principalmente em assegurar o saneamento financeiro do clube, pergunta, logo no início da época (ou seja, no tempo das contratações), se quatro segundos lugares consecutivos chegam para satisfazer os adeptos. E é Pedro Barbosa, que como jogador nunca procurou outra coisa senão essa curta glória, que lhe diz que sim. Entretanto, cá em baixo, Paulo Bento agradece: menos meios podem significar menos resultados, mas também significam menos exigência – e, portanto, o mandato vai-se prolongando.
Eu gostava de ver como era se o FC Porto ficasse quatro anos seguidos em segundo lugar no campeonato. Seria isso considerado um bom resultado? Aliás: eu gostava mesmo de ver se próprio o Benfica ficasse quatro anos seguidos em segundo lugar no campeonato. Mesmo tendo feito pior nos últimos anos, consideraria o Benfica esses quatro segundos lugares um bom resultado? Pois claro que não. Já no Sporting, isso chega. No fundo, o que nos dizem é que somos o mais pequeno dos clubes grandes. E eu continuo determinado a não aceitar isso. Mesmo depois de Pedro Barbosa e a sua atmosfera negligé quase terem conseguido reduzir a pó a resistência de tanto vencedor nato.

CRÓNICA DE FUTEBOL ("Futebol: Mesmo"). Jornal de Notícias, 21 de Agosto de 2009

publicado por JN às 13:00

De
  (moderado)
Nome

Url

Email

Guardar Dados?

Este Blog tem comentários moderados

(moderado)
Ainda não tem um Blog no SAPO? Crie já um. É grátis.

Comentário

Máximo de 4300 caracteres



Copiar caracteres

 



O dono deste Blog optou por gravar os IPs de quem comenta os seus posts.

subscrever feeds
pesquisar neste blog
 
joel neto

Joel Neto nasceu em Angra do Heroísmo, em 1974. Publicou “O Terceiro Servo” (romance, 2000), “O Citroën Que Escrevia Novelas Mexicanas” (contos, 2002), “Al-Jazeera, Meu Amor” (crónicas, 2003), “José Mourinho, O Vencedor” (biografia, 2004), "Todos Nascemos Benfiquistas – Mas Depois Alguns Crescem" (crónicas, 2007) e "Crónica de Ouro do Futebol Português" (obra colectiva, 2008). Está traduzido em Inglaterra e na Polónia, editado no Brasil e representado em antologias em Espanha, Itália e Brasil, para além de Portugal. Jornalista, tem trabalhado na imprensa escrita, na televisão e na rádio, como repórter, cronista, comentador, apresentador e autor de conteúdos. (saber mais)
nas redes sociais

livros

"O Terceiro Servo",
ROMANCE,
Editorial Presença,
2000
saber mais...


"O Citroën Que Escrevia
Novelas Mexicanas",
CONTOS,
Editorial Presença,
2002
saber mais...


"Al-Jazeera, Meu Amor",
CRÓNICAS,
Editorial Prefácio
2003
saber mais...


"José Mourinho, O Vencedor",
BIOGRAFIA,
Publicaçõets Dom Quixote,
2004
saber mais...


"Todos Nascemos Benfiquistas
(Mas Depois Alguns Crescem)",
CRÓNICAS,
Esfera dos Livros,
2007
saber mais...


"Crónica de Ouro
do Futebol Português",
OBRA COLECTIVA,
Círculo de Leitores,
2008
saber mais...

arquivos
2011:

 J F M A M J J A S O N D


2010:

 J F M A M J J A S O N D


2009:

 J F M A M J J A S O N D