Esta semana estamos em lua de mel com o Sporting – e, até certo ponto, há razões para isso. Tirando o absurdo do gesto individual de Vukcevic, cujo talento excede amplamente a inteligência, o Sporting jogou bem contra a Fiorentina. Mostrou um desejo que há muito não se lhe via, provou que também é capaz de contratar bons jogadores (Matias Fernández deve ser a melhor contratação desde Liedson) e, no fim, apenas empatou porque foi clara, desgraçada e persistentemente prejudicado pelo árbitro, que o perseguiu do primeiro ao último minuto com más decisões técnicas, péssimas decisões disciplinares e uma terrível gestão do relógio.
Mas não nos deixemos enganar: este fim-de-semana estaremos de volta ao desmazelo e, inevitavelmente, à incompetência. E, se não for este fim-de-semana, é na terça-feira. E, se não for na terça-feira, é no fim-de-semana seguinte. Não era assim Pedro Barbosa: um jogador capaz de arrancar um grande jogo por mês, mas depois afundando-se progressivamente no lodo da negligência, da falta de vontade e da alienação? Pois assim é o Sporting de hoje. Não de hoje, 21 de Agosto de 2009: de hoje, segunda metade da primeira década do século XXI. Uma equipa para a qual, se der, deu; se não der, não deu. Uma equipa exactamente à imagem do jogador que um dia foi o seu actual director desportivo.
Temos subvalorizado o papel de Pedro Barbosa no Sporting. Silencioso, quase obscuro, Barbosa está a quilómetros do estatuto de superstar de que Rui Costa goza no Benfica. E, no entanto, passa tudo por ali. Passa e continuará a passar enquanto Miguel Ribeiro Teles, com conhecimento limitado do jogo, continuar a tutelar a pasta do futebol. É a Pedro Barbosa que a Direcção, interessada principalmente em assegurar o saneamento financeiro do clube, pergunta, logo no início da época (ou seja, no tempo das contratações), se quatro segundos lugares consecutivos chegam para satisfazer os adeptos. E é Pedro Barbosa, que como jogador nunca procurou outra coisa senão essa curta glória, que lhe diz que sim. Entretanto, cá em baixo, Paulo Bento agradece: menos meios podem significar menos resultados, mas também significam menos exigência – e, portanto, o mandato vai-se prolongando.
Eu gostava de ver como era se o FC Porto ficasse quatro anos seguidos em segundo lugar no campeonato. Seria isso considerado um bom resultado? Aliás: eu gostava mesmo de ver se próprio o Benfica ficasse quatro anos seguidos em segundo lugar no campeonato. Mesmo tendo feito pior nos últimos anos, consideraria o Benfica esses quatro segundos lugares um bom resultado? Pois claro que não. Já no Sporting, isso chega. No fundo, o que nos dizem é que somos o mais pequeno dos clubes grandes. E eu continuo determinado a não aceitar isso. Mesmo depois de Pedro Barbosa e a sua atmosfera negligé quase terem conseguido reduzir a pó a resistência de tanto vencedor nato.
CRÓNICA DE FUTEBOL ("Futebol: Mesmo"). Jornal de Notícias, 21 de Agosto de 2009