E, por muito prazer que me dê ver a benficagem lidar com essa derradeira vertigem, a verdade é que fui assaltado esta semana por um sentimento nunca antes experimentado: o medo de que o Benfica não ganhe agora o campeonato. Eu podia brincar: “Digo-o apenas por causa da crise, da revitalização da economia e da própria retoma, para a qual parece que as vitórias do Benfica contribuem.” Mas não. A verdade é que o Benfica não foi apenas a melhor equipa deste campeonato: foi o que clube que mais bem trabalhou – e é mesmo pena que a sua vitória acabe levemente manchada pelas tropelias nos túneis, pelos desmandos da Comissão Disciplinar e até pela simples incompetência da arbitragem nacional.
Escrevi, antes do arranque da temporada, que Jorge Jesus não teria unhas para aquele leque de jogadores – e que os problemas no balneário tornariam inevitável o desabamento do sonho. Estava enganado. Eis-me aqui, a dar a mão à palmatória. O resto é lúdico, não mais. Das coisas mais importantes do mundo, o futebol é a menos importante. E há alguns benfiquistas de quem eu até gosto.
2. Não sei o que é mais desconcertante: se tentar decifrar esses inusitados critérios que levam a FIFA a colocar Portugal no terceiro lugar do ranking mundial de selecções, se assistir à vaidade de Queiroz reclamando méritos no “bom trabalho” que levou a essa posição. Em todo o caso, o ranking está aí – e agora é preciso lidar com as expectativas adicionais que ele traz.
A fase final de um Mundial é uma competição sui generis, em que de facto tudo pode acontecer. Por esta altura, porém, é muito difícil acreditar que Portugal possa sequer aspirar um lugar nas meias-finais, à medida do seu ranking. A própria qualificação, não nos esqueçamos, foi uma surpresa para muitos. E, se nos faltam jogadores em lugares chave, o que dizer do chamado “fio de jogo”?
Parecem-me demasiados problemas para resolver em tão pouco tempo. Entretanto, porém, não se esqueçam: eu sou do Sporting – que outra esperança podia ter, em relação a esta temporada, para além de divertir-me tanto em Junho quanto me diverti durante o Euro 2004, o Mundial de 2006 ou o Euro 2008? Que viva Portugal, pois.
3. Pena tenho eu, aliás, que os jogadores do Sporting não pensem da mesma maneira. Quem vê o Sporting em campo, arrastando-se penosamente até que, enfim, se conclua o campeonato, não pode acreditar que aqueles jogadores sequer com o Mundial se preocupem. Os que têm a convocação garantida repousam sobre essa garantia. Os que ainda podiam aspirar a ela simplesmente desinteressaram-se.
Há algo de profundamente deprimente nisto. Não se deixem enganar: o Sporting vive provavelmente o pior momento de toda a sua história centenária. E, entretanto, temos Costinha nos mercados dos antigos “países de Leste”, precisamente aquele que mais jogadores problemáticos nos tem dado, à procura de reforços. C’est la folie.
CRÓNICA DE FUTEBOL ("Futebol: Mesmo"). Jornal de Notícias, 30 de Abril de 2010