
Qualquer decisão que retire espaço a Costinha na gestão do plantel profissional do Sporting é uma boa decisão. Desde que chegou a Alvalade, Costinha não fez outra coisa senão pavonear fatos de mau gosto, procurar novos horizontes para a sua autoridade e, basicamente, ajudar a destruir o pouco que ainda havia (se havia) de qualidade futebolística. Nesse sentido, a contratação de José Couceiro para o cargo de director-geral do clube é, em princípio, uma boa notícia.
E, porém, é preciso confirmar duas coisas. A primeira é se a contratação de José Couceiro efectivamente retirará espaço a Costinha na gestão do plantel ou se, pelo contrário, remeterá o director-geral a uma função eminentemente burocrática e de “representação”, oferendo ao director de Futebol mais liberdade (e mais inimputabilidade) ainda. A segunda é se, contratando um director-geral (ainda por cima com o perfil de Couceiro), fará sentido continuar a ter um director de Futebol (ainda por cima com o perfil de Costinha) ou se, pelo contrário, a coexistência das duas figuras não é apenas uma forma de tentar emendar um pouco a mão, mas no essencial manter a face.
Seja como for, estou convencido de que José Couceiro se meteu naquilo a que se chama uma bela encrenca. Claramente, o actual status quo sportinguista não durará muito. O descontentamento está demasiado generalizado, os resultados são demasiado maus e qualquer operação de cosmética (que é o que, para José Eduardo Bettencourt, a contratação de Couceiro significa) é demasiado óbvia. Mais cedo ou mais tarde, e se de facto ainda restarem sportinguistas (se de facto ainda restar sportinguismo, isto é), esta estrutura dará lugar a outra.
Ora, se José Couceiro não o percebeu ainda, não está cá a fazer nada. Por outro lado, se o percebeu e decidiu investir no futuro, no do clube ou no seu próprio, posicionando-se para vir a garantir uma situação melhor (para o clube ou para si próprio, ou mesmo para os dois ao mesmo tempo), tem pela frente uma missão verdadeiramente ciclópica. À sua volta, reina a incompetência, o autismo, a prepotência – e sobreviver em meio de tal hostilidade pode, a muito curto prazo, revelar-se uma tarefa demasiado exigente para qualquer ser humano.
Temo que ainda não tenhamos chegado tão fundo quanto poderemos chegar. E que nem a presença, no coração da estrutura, de uma figura tão consensual como José Couceiro poderá evitar que continuemos a descer. Mas eu sou um pessimista, claro. Nada daquilo que há anos venho prevendo aqui se concretizou, pois não?
CRÓNICA DE FUTEBOL ("Futebol: Mesmo").
Jornal de Notícias, 24 de Dezembro de 2010
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