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01 Outubro 2010
www.record.xl.pt

A entrevista de Costinha ao Jornal do Sporting, que esta semana marcou a actualidade leonina, é apenas mais um sinal do amadorismo que por esta altura grassa em Alvalade. Como provam os podcasts distribuídos entretanto aos restantes órgãos de comunicação social, Costinha está a ler um papel. Eu percebo-o, claro: os jornalistas deturpam muito o que os homens do futebol dizem – e não é por serem do Jornal do Sporting que estes jornalistas são mais de confiar do que os outros. Mais vale, portanto, deixar tudo bem escritinho. E, então, Costinha lê. E lê mal. E disfarça ainda pior.

Não tenho cada contra, por exemplo, as entrevistas por email. Pessoas com dificuldades de expressão, como é o caso de Costinha, podem muito bem defender-se através desse meio e, mesmo assim, responderem às questões importantes a contento próprio e do leitor. Mas é preciso que os jornalistas o assumam: “Esta entrevista foi feita por email”. Ou ainda: “Mandámos as perguntas antes e o entrevistado respondeu a ler num papelinho.” Fingir já é outra coisa. E, que diabo: num dos podcasts em causa, de resto transmitido pelo Bola Branca da Rádio Renascença (e não só, parece-me), há mesmo um excerto em que até parece que se ouve uma folhinha A4 a virar.

Vive-se em Alvalade, cada vez tenho menos dúvidas disso, uma espécie de transe colectivo – uma euforia mais próxima da folie a deux (ou a plusieurs) do que de qualquer outra coisa. A última é esta proibição do uso de calças de ganga pelos funcionários e colaboradores do clube, supõe-se que jogadores incluídos. Felizmente para os brasileiros e para a sua paixão pelas havaianas, os calções e os chinelos são apenas “desaconselhados”. Calças de ganga é que não. Vão contra os valores do Sporting. E, quando na tribuna, toda a gente deve usar blazer. De novo, os chinelos são desaconselhados, mas não proibidos. Aliás, há uns chinelos da Boss que ficam a matar com um blazer azulão – se for esse o caso, então a coisa passa.

Pois eu proponho que nos inspiremos todos, sportinguistas em geral, na indumentária de Costinha. Vamos a Itália com uma pipa de massa e compramos uns fatos aos quadrados, tipo Teté Ricou – e depois, para dar um toque de verdadeira classe à toilette, calçamos uns sapatos de biqueira bem quadrada e pomos uns óculos de surfista na cabeça. Por favor, sportinguistas: ajudem-nos a recuperar os valores do clube. Ajudem-nos a mudar estas mentalidades. O Sporting está há demasiados anos a descarrilar a nível de mentalidades – e, se querem mesmo a minha opinião, foram as calças de ganga que deram cabo desta gaita toda.

Pobre Paulo Sérgio…

CRÓNICA DE FUTEBOL ("Futebol: Mesmo").

Jornal de Notícias, 1 de Outubro de 2010

(imagem: © www.record.xl.pt)

publicado por JN às 23:04

O que vale é o Daniel Carriço, penteado nos salões "Lúcia Piloto", já veio desmentir, de forma descabelada, a urdida montada por esses seres incapazes de distinguir a Armani da H&M, que são os jornalistas.
Enfim, já se sabia que, quanto a regras de etiqueta, o Sporting podia e pode fazer a diferença e até, pasma-se, conquistar títulos.....
Um abraço,
A.P.
antonio a 4 de Outubro de 2010 às 19:26

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joel neto

Joel Neto nasceu em Angra do Heroísmo, em 1974. Publicou “O Terceiro Servo” (romance, 2000), “O Citroën Que Escrevia Novelas Mexicanas” (contos, 2002), “Al-Jazeera, Meu Amor” (crónicas, 2003), “José Mourinho, O Vencedor” (biografia, 2004), "Todos Nascemos Benfiquistas – Mas Depois Alguns Crescem" (crónicas, 2007) e "Crónica de Ouro do Futebol Português" (obra colectiva, 2008). Está traduzido em Inglaterra e na Polónia, editado no Brasil e representado em antologias em Espanha, Itália e Brasil, para além de Portugal. Jornalista, tem trabalhado na imprensa escrita, na televisão e na rádio, como repórter, cronista, comentador, apresentador e autor de conteúdos. (saber mais)
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