Entretanto, o seu prazo de validade expirou. Os primeiros sinais têm alguns anos. Desde então, Madaíl pediu carta branca à direcção da FPF e contratou Queiroz por quatro longos e absurdos anos. Depois, e quando as coisas apertaram, rasgou a carta branca e pediu um amplo consenso para dispensar o seleccionador. Finalmente, anunciou a dispensa sem ter ainda um sucessor para apresentar, deixando o país deprimido perante o fim de um ciclo, em vez de animado perante o início de outro.
Madaíl está cansado, adoentado e frágil. Ontem, garantiu que continuará em funções até à assembleia geral que convocou, mas não se pretende continuar em funções depois dela. No seu interesse, espero que não o pretenda. No nosso, não sei. Se bem conheço o futebol pátrio (e a própria Pátria), é bem possível que, daqui, só para pior. Foram muitos anos de boa vida. Está na hora de nova travessia no deserto.
2. E o meu candidato à sucessão de Queiroz (rufem os tambores) é: Paulo Bento. Sim, eu sei que o invectivei aqui durante anos a fio. Sim, eu sei que, ainda por cima, tive razão. Mas também sei que, desde então, o Sporting lhe deu uma lição importantíssima – a lição de que ele precisava para que pudesse um dia tornar-se um bom treinador (e, porque não, seleccionador nacional).
Paulo Bento foi a pior coisa que aconteceu ao Sporting, tão simplesmente, porque nunca bateu o pé à administração da SAD, aceitando todas as sucessivas restrições de recursos que lhe impuseram. Entretanto, já o percebeu: afinal, era possível investir, mesmo que agora os jornais decidam chamar “prejuízo” ao balanço que decorre desse investimento – e muito melhor teria feito se o houvesse exigido, sob pena de acabar, como acabou, no papel de Augusto da história.
Temos uma selecção de estrelas, estrelinhas e estrelícias – e Paulo Bento é, por esta altura, o homem certo para domá-las. Líder, mesmo, não o será. Mas será um ditador – e, mesmo que daí não resulte outra coisa senão a profilaxia, essa profilaxia é fundamental. O resto, Paulo Bento já sabe: um seleccionador, como um treinador, tem de funcionar em tensão com os dirigentes. Os brasileiros chamam-lhes “os cartolas” – e fazem bem.
CRÓNICA DE FUTEBOL ("Futebol: Mesmo"). Jornal de Notícias, 10 de Setembro de 2010