2. Apesar de Queiroz, não deixa de constranger-me o abandono da selecção por parte de Deco, Simão Sabrosa e Paulo Ferreira. Deco é um caso especial: o que restará de “portugalidade” nele, agora que está de regresso ao Brasil e sem ligações à selecção? Simão e Paulo Ferreira já são semelhantes: exerceram o seu legítimo direito a fazer apenas o que bem entendem, mas levam-nos igualmente a crer, ao abandonarem o barco num momento especialmente difícil, que a sua dedicação à causa nunca foi grande coisa. O que nem sequer é exclusivo deles, diga-se: por toda a Europa há jogadores a darem por concluídas as carreiras na respectivas selecções. Pois eu gostava que pusessem, todos eles, os olhos no golfe e nas selecções europeia e norte-americana para a Ryder Cup. Centenas e centenas de jogadores digladiaram-se, durante dois longos anos, por um dos 24 lugares disponíveis na 38ª edição da prova, marcada para Outubro. E, no entanto, os prémios de jogo não serão apenas mais baixos do que aqueles a que eles estão habituados nas suas rotinas semanais: são simplesmente inexistentes. Ali, joga-se apenas pelo prestígio e pela honra – e esse é o momento mais alto de uma vida. Sabendo talvez os futebolistas o que é o prestígio, saberão também o que é a honra?
CRÓNICA DE FUTEBOL ("Futebol: Mesmo"). Jornal de Notícias, 3 de Setembro de 2010