2. Inquietava-se o “Record” de quarta-feira com o facto de o Sporting ser, dos três grandes, aquele com “pior saldo financeiro nas transferências de atletas durante o ano de 2010”. Ao todo, o Sporting investiu em compras mais 3,8 milhões de euros do que aquilo que facturou em vendas. Eu acho que foi pouco: provavelmente, deveria ter acumulado o triplo desse prejuízo. Por outro lado, o balanço também prova a falência da política desportiva do clube ao longo dos últimos sete/oito anos. Afinal, ficámos sem pérolas – e, em troca delas, nem dinheiro suficiente para a constituição de um plantel equilibrado conseguimos. Resultado: já estamos a perder dinheiro – e, embora tenhamos Izmailov para vender, ainda nos falta pelo menos um bom avançado e um bom guarda-redes (para além de mais um médio-ala, em caso de saída de Izmailov). Parabéns pelo “projecto”.
3. É claro que Corradi gostava de jogar no Sporting. Tem 34 anos, é terceira opção na Udinese, já não vai a tempo de fazer mais nenhum grande contrato – e a oportunidade que lhe aparece aqui é a de fazer um contrato razoável e, ao mesmo tempo, receber as verbas do contrato vincendo com o seu actual clube. Basicamente, é um potencial reformado de ouro mesmo à morte para calçar as pantufas. Mas é preciso que não nos esqueçamos de que Acosta, chegado a Portugal com 33 anos, também o era. E que, aliás, tanto Michel Preud’homme (chegado ao Benfica aos 35) como Peter Schmeichel (chegado ao Sporting aos 36), e por muito que o posto de guarda-redes seja diferente, o eram igualmente. Eu apostava tudo num bom exame de motivação. Há um estranho fulgor, às vezes, nos homens à beira do fim. Provar que o fim ainda não faz sentido – eis aquilo que Corradi tem de querer.
CRÓNICA DE FUTEBOL ("Futebol: Mesmo"). Jornal de Notícias, 13 de Agosto de 2010