
Perguntar-me-ão agora: então por que raio pensas tu, Noel ou lá como te chamas, que isso é melhor do aqueles quatro anos de Paulo Bento, com segundos lugares consecutivos, incluindo idas à Liga dos Campeões? Bom, por duas razões. A primeira é que, de contrário, não me restava outra coisa senão temer que estes fossem efectivamente os últimos dias do Sporting. E a segunda é que, mesmo que esta revolução tenha ficado aquém da ideal, estamos finalmente no caminho de alguma coisa. Com Paulo Bento, estávamos sempre no nosso limite: éramos segundos, mas nunca passaríamos disso.
Há muitos anos que cultivo a convicção de que o Sporting só tem uma escolha: demolir e fazer de novo. De forma que me enche de tédio ouvir agora tantos sportinguistas lamentar que se tenha “destruído todo o trabalho feito até aqui”, vendendo as chamadas “pérolas” e embarcando na mesma política de “contratação de estrangeiros e de veteranos” dos rivais. Sempre tive dúvidas sobre essas pérolas (falo de Moutinho e Veloso, naturalmente): têm de facto talento, mas no Sporting já não dariam mais do que aquilo. Por outro lado, o miserabilismo levou-nos a rigorosamente lado nenhum: as contas do clube estão tão de pantanas como sempre estiveram (se é que não estão pior ainda).
De forma que, se alguma coisa lamento nesta revolução, é que não tenha sido completa. Por mim, tinham partido também Rui Patrício, Abel, Helder Postiga, mesmo Djaló. Mas foi feita alguma coisa, efectivamente – e não é por ter sido feita por José Eduardo Bettencourt e Costinha (embora o mais provável é que tenha sido feita por Jorge Mendes), dois homens de quem já não parecia lógico esperar grande coisa, que vou desdenhar dela.
O Sporting, repito, está agora a caminho de um lugar. E o que se pode pedir, nesta fase, são duas coisas: que, no próximo ano (e, aliás, neste também, sempre que o mercado estiver aberto), a revolução continue; e que essa revolução não pare aos primeiros sinais de fracasso. Porque vai haver sinais de fracasso – e não hão-de tardar.
CRÓNICA DE FUTEBOL ("Futebol: Mesmo"). Jornal de Notícias, 6 de Agosto de 2010