Senti o mesmo, desde o princípio, com Rúben Amorim. Olha-se para ele em campo e rapidamente se percebe: ele podia estar em qualquer sítio, que o resultado era o mesmo. Põem-no a médio interior: não compromete. Põem-no a trinco: joga benzinho. Põem-no a lateral-direito: ninguém dá por ele, o que num defesa, mesmo lateral, é sempre pelo menos razoável. E, no entanto, também nunca se espera o que quer que seja dele. Rúben Amorim não falha um passe porque raramente arrisca um passe difícil. Não erra um corte porque normalmente controla o lance à distância. Faz um golo de vez em quando, mas porque leva com a bola – e, se saísse por uns minutos para ir urinar, tenho a certeza de que ninguém sentia a sua falta.
Substituir Nani por Rúben Amorim, e mesmo tendo em conta o reequilíbrio da equipa que tantos e tantos comentadores têm frisado ao longo dos últimos dias, é como substituir uma sequóia por uma acácia, um Maserati por um Opel Corsa, Scarlett Johansson por Winona Ryder. Um acácia também enfeita, um Opel Corsa também chega ao seu destino, Winona Ryder também tem um peito bonito. E, todavia, ninguém perde dois minutos a olhar para eles – e, se em algum momento os manda buscar para fazer as vezes, é depois de ter já concedido que nada será como dantes. E eu preferia Eliseu. Por razões sentimentais (é da minha terra, da minha ilha, da minha cidade e filho da Nené, que faz as melhores catchupas de Angra) e por razões estéticas. O futebol, com ele, é outra coisa: é uma alegria.
Rúben Amorim talvez até dê jeito. Se Fábio Coentrão for preciso na frente, passa Paulo Ferreira para a esquerda e vai ele para a direita. Se Pedro Mendes se lesionar e Pepe não estiver em condições, também não há problema: vai Rúben para o meio. E, se os três guarda-redes apanharem uma disenteria, paciência: aí está Rúben à baliza. Mas quem pode negar que esta selecção só faz sentido se não for preciso mandá-lo aquecer nunca?
ESPECIAL MUNDIAL ("Missão: Arco-Íris"). Jornal de Notícias, 11 de Junho de 2010