Depois da mais deprimente de uma longa série de épocas deprimentes, o Sporting conseguiu colocar nove jogadores na pré-convocatória para o Mundial, liderando destacadamente o grupo de potenciais fornecedores da selecção. Pois apenas três desses nove jogadores efectivamente vão ao Campeonato do Mundo (e é se forem todos). O que nos diz, mais do que qualquer outra coisa, esta: a inércia do plantel do Sporting, de longe o clube onde há maior preponderância de futebolistas portugueses, era tão óbvia que até Queiroz a percebeu. E, se não fizermos outra coisa, ao menos que nos envergonhemos da liçaozinha. Nem que seja porque os nossos jogadores, provavelmente, não perceberão que devem envergonhar-se dela.
Entretanto, a vitória do Atlético de Madrid na Liga Europa traz à luz outra evidência igualmente importante. Sim, é certo que o Sporting se bateu de igual para igual com o irmão madrileno (que, aliás, até podia ter suplantado). E também é certo que um triunfo na Liga Europa, pouco mais do que uma espécie de segunda divisão pan-europeia, não é o mesmo que ganhar um campeonato nacional. Mas o facto é: o Atlético tornou a mostrar-nos que até os clubes mais sofridos têm de dar-se a si próprios, de vez em quando, uma oportunidade de triunfar. Quando vai, finalmente, o Sporting fazê-lo?
2. Das poucas intervenções de Paulo Sérgio a pretexto do Sporting, maiores ou menores, aturadamente ponderadas ou apenas de circunstância, pouco ressaltou ainda do que pretende exactamente o novo treinador para a equipa. Ainda um dia destes o ouvimos dizer que quer “devolver o clube ao lugar que ele merece”, mas isso significa pouco: era a primeira coisa que, no seu lugar, eu próprio, treinador de bancada, diria. De forma que crescem as expectativas para a apresentação oficial deste fim-de-semana, incluindo a respectiva conferência de imprensa.
Insisto (e insisto e insisto): o treinador é a figura mais importante de um clube de futebol. Mais: o primeiro ano de Bettencourt (como, aliás, os primeiros meses de Costinha) demonstra claramente que é nas mãos do treinador que devemos colocar-nos. Que treinador é esse? Eis, agora, a questão. Para já, é o homem que deixou o V. Guimarães fora da Liga Europa, ao perder em casa o último jogo do ano, de resto contra um adversário directo na corrida à qualificação.
Injusto? Por isso mesmo: o melhor é Paulo Sérgio falar depressa. O que queremos saber é tão simples ou tão complexo como isto: será ele, enfim, o homem que resistirá à lógica miserabilista da administração do clube, fazendo-a inflectir em direcção à modernidade, à dinâmica da economia e à própria ambição? Ou será apenas mais um que, instalado em Alvalade, com a súbita impressão de que chegou enfim à elite do futebol, de imediato cantará a ladainha das “dificuldades financeiras”, da “gestão racional”, da “base sólida” e (oh, expressão maldita) do “projecto de futuro”?
CRÓNICA DE FUTEBOL ("Futebol: Mesmo"). Jornal de Notícias, 14 de Maio de 2010