O problema é que Pinto Souto chegou a representar uma esperança para muitos sócios leoninos, mas nem por isso levou em frente essa promessa. Ora, para mandar bocas já cá estamos nós, colunistas e sócios anónimos – toda uma parafernália de sofredores que diariamente choram a desgraça, a miséria e o vazio em que este clube se tornou. Se Pinto Souto tinha um “compromisso de seriedade” (sic) com Soares Franco, razão pela qual acabou por não avançar no ano passado contra José Eduardo Bettencourt, foi porque estabeleceu um compromisso com a pessoa errada – e, aliás, porque esta decidiu validá-lo em favor de uma segunda pessoa errada também. Na verdade, Pinto Souto não tem razão sequer quando diz que esta direcção deve cumprir o seu mandato até ao fim. No fim deste mandato, pode já não sobrar nada (se é que ainda sobra grande coisa).
Por favor, dr. Souto: chegue-se à frente. Chegue-se à frente já. O Sporting não pode esperar mais – e muito menos pode esperar mais três anos sob a liderança de um presidente que, a acreditar no que o senhor diz, “mente aos sócios”.
2. Olho para os 50 pré-convocados de Queiroz e gela-se-me a espinha: o Sporting é o clube que mais jogadores coloca entre aqueles com possibilidades de chegarem ao Mundial. Daniel Carriço, João Moutinho, João Pereira, Liedson, Miguel Veloso, Pedro Mendes, Rui Patrício, Tonel e Yannick – todos eles estão na calha para representar a selecção na África do Sul. E, embora seja de crer que Yannick não tenha grandes hipóteses, que Tonel e Daniel Carriço nunca irão juntos e que João Pereira talvez não tenha conseguido mostrar num clube grande (e, portanto, em ambientes mais exigentes) a mesma utilidade exibida no Sporting de Braga, a verdade é que são muitos.
Eu tremo. Em princípio, e sendo sportinguista, teria todo o gosto em ver muitos jogadores do Sporting na selecção. Foi sempre isso que senti ao longo dos anos, aliás. Mas a questão é que a selecção, este ano, é a única coisa com que homens como eu podem vibrar – e mau será que aquilo com que ainda podemos vibrar volte a ficar nas mãos dos mesmos. Desenganemo-nos: o Sporting é efectivamente quem mais investe nos jogadores portugueses. Mas vários destes jogadores não servem sequer para o Sporting, quanto mais para a selecção.
3. A iniciativa “Queremos a Selecção de Bigode no Mundial”, em curso no FaceBook, é uma oportunidade de ouro para a equipa de Queiroz (e o próprio treinador) mostrar cumplicidade com os adeptos nacionais e, aliás, atenção às novas tendências sociais. Se andamos há seis meses a cantar o insuportável “I Gotta Feeling”, então, decididamente, os jogadores deixarem todos crescer os bigodes até seria um gesto pequeno. Para além de que seria mais português.
CRÓNICA DE FUTEBOL ("Futebol: Mesmo"). Jornal de Notícias, 7 de Maio de 2010