Já aqui o disse antes: a última coisa de que os sportinguistas querem agora ouvir falar é do futuro. Do futuro – e nomeadamente de um futuro que nunca chega – já estamos todos nós cheios. Queremos presente. E, querendo presente, estamo-nos (deixem-me usar a linguagem em vigor na Assembleia da República) marimbando para os chamados “jogadores jovens”. Jogador jovem é coisa do futuro. Para o futuro. Já se sabe que, de cada vez que promovemos um, vamos passar mais dois anos só à espera de que encontre o seu lugar em campo.
E, no entanto, é tontice sequer considerar a renovação do contrato de Derlei. Derlei foi um bom jogador de futebol. Falhou no Benfica, mas no Benfica é mesmo assim: quem é bom falha, quem não presta acerta (e, aliás, acerta apenas durante aquelas duas ou três semanas de que a benficagem e a imprensa afecta necessitam para lançar o foguetório que havíamos reservado para celebrar, um dia, a chegada do homem a Marte). Mais: Derlei ainda tem apenas 33 anos, menos dois do que Ryan Giggs ou Javier Zanetti, que vão renovar respectivamente pelo Manchester e pelo Inter – e menos seis, de resto, do que tinha Paolo Maldini quando assinou o último contrato pelo Milan.
Acontece que Derlei já não consegue disputar uma bola sem dar pancada. É honesto, voluntarioso, empenhadíssimo. Quem nos dera a nos ter tido, ao longo destas últimas quatro épocas de depressão, mais sete ou oito como ele (tivemos só Moutinho e Liedson, infelizmente). Mas já não tem, por esta altura, as condições necessárias para jogar no Sporting. E o Sporting tem de limpar o plantel. Não de escroques, que não os há (muitos), mas de jogadores abaixo dos mínimos exigíveis a um jogador do Sporting. O Sporting precisa de um novo presidente. O Sporting precisa de um novo treinador. Mas o Sporting também precisa de novos (como é que se diz?) intérpretes.
O máximo que o Sporting deveria fazer por Derlei, e como sinal de gratidão pelos seus bons serviços, era deixá-lo em banho-maria para uma eventual entrada na equipa técnica da próxima temporada. Derlei tem uma influência positiva nos jogadores que com ele trabalham, segundo garantem muitos companheiros – e, nesta altura de reconstrução, será importante haver entre os treinadores alguém cuja principal incumbência seja a de pedir dedicação à causa. Mas em todo o caso, e por favor, não se ponham também a contratar já os adjuntos que devia ser o próprio Luiz Felipe Scolari a escolher…
PS: deliciosa, a história de uma eventual candidatura de José Veiga ao Benfica. Pinto da Costa ainda há-de conseguir deixar um portista na presidência de cada um dos clubes adversários. Se efectivamente se aproxima o fim do seu ciclo (eu não acredito, mas de dois em dois anos alguém diz que sim), pode ser essa a sua última grande medida: a assinatura definitiva do mestre numa obra absolutamente perfeita.
CRÓNICA DE FUTEBOL ("Futebol: Mesmo"). Jornal de Notícias, 15 de Maio de 2009