ler mais...
26 Março 2010

Agora que ambos os principais intervenientes divulgaram a sua versão da história, já é possível perceber um pouco do que se passou com Izmailov antes do jogo com o Atlético de Madrid. Depois de meses a jogar infiltrado, o jogador avisou que as infiltrações já não funcionavam e, portanto, tinha de parar, até para proteger a transferência que planeia para o final da temporada. Costinha, acabado de chegar a Alvalade, decidiu então usar a situação para provar que é despachado. Arregaçou as mangas, meneou a anca e avisou em volta: “Era o que faltava ele não jogar. Eu sou Costinha, O Ministro!” Mas Izmailov estava mesmo em más condições, como o veio a provar a ausência dos treinos normais desde então – e, sob o risco de uma humilhação, Costinha não teve outra alternativa senão fugir para a frente, mandando o jogador para casa, de forma a emitir um sinal ainda maior da sua força.

O lado desconcertante disto é tratar-se precisamente de Izmailov, o atleta de cuja disponibilidade para abdicar do ordenado, durante a longa lesão com que se debateu no ano passado, o Sporting não se cansou de gabar-se, pretendendo com isso mostrar que estava tudo bem em Alvalade. E o problema com que se fica é simples: afinal, acreditamos no Sporting que diz que Izmailov é um profissional modelar, um homem dos antigos, um cavalheiro como já não há; ou acreditamos no Sporting que nos garante que Izmailov é um ronhas egoísta, ainda por cima disposto a deixar-nos mal quando se jogava a manutenção da única prova cujo título que ainda podíamos disputar? Pessoalmente, acredito no profissionalismo do russo. Izmailov é um homem um tanto indecifrável, sim – e, aliás, tem um empresário complicadíssimo. Mas, mesmo que nunca tenha sido Jesus Cristo, como pretendeu o marketing oficial leonino, foi sempre um bom profissional.

Pelo contrário, Costinha entra em Alvalade como entraram Sá Pinto e o próprio José Eduardo Bettencourt: como (e para usar uma velha imagem jornalística) um elefante numa loja de cristais. Fê-lo porque o pôde fazer (o Sporting é agora pouco menos do que uma anarquia) e fê-lo porque é isso que os homens impreparados fazem quando, ao darem por si perante uma tarefa muito acima das suas competências, farejam onde está a fragilidade e logo a usam em proveito próprio. O resultado é isso que aí temos: uma nova época no horizonte, a urgência de começar a prepará-la com uma competência que não revelamos há anos e, de repente, tudo nas mãos de um presidente desnorteado, de um director de futebol excitadíssimo e de um treinador (para dizer o mínimo) modesto. Está bonito, isto. Tanto quanto me parece, hoje em dia, já só resta uma coisa do Sporting: os sportinguistas propriamente ditos. E não me parece que o número esteja a crescer.

PS: a decisão do Conselho de Justiça da FPF sobre as suspensões de Hulk e Sapunaru pode ou não ser a mais correcta. É o que menos importa ao Sporting. Mas é importante registar que boa parte deste campeonato, tendo em conta igualmente as suspensões de jogadores do Sp. Braga (Vandinho à cabeça), se resolveu no túnel. E talvez seja aconselhável começarmos a trabalhar também essa componente do nosso “jogo”.

CRÓNICA DE FUTEBOL ("Futebol: Mesmo"). Jornal de Notícias, 26 de Março de 2010

publicado por JN às 10:33

Coitadinho do Izmailov... Mauzão do Costinha... Coitadinho do russo que vai segue para viagem a Moscovo no dia do jogo.
Filipe Gomes a 27 de Março de 2010 às 16:47

Ao interiorizar até ao absurdo a sua vocação de clube de formação, o Sporting tem, ultimamente, optado por uma política de formação na profissão que dificilmente trará bons resultados. Paulo Bento foi chamado enquanto estava a aprender a ser treinador. Ainda prometeu alguma coisa, mas acabou mal. Sá Pinto foi contratado para aprender a ser director-desportivo. Acabou ao murro. Costinha foi contratado segundo o mesmo princípio. Não sei como acabará, mas as expectativas são as piores. André Villas Boas, a confirmar-se, é mais um aprendiz, no caso, de treinador. No meio disto, José Eduardo Bettencourt, que até já tem uns aninhos da coisa, parece ainda mais desorientado e inexperiente que os outros todos. Conclusão: isto tem tudo para dar buraco.
Jota a 31 de Março de 2010 às 18:00

Pronto...vi agora que este blog tem comentários moderados. Não vai sair nada. Pois o Izma é um santinho, só porque em determinada altura disse que não queria receber ordenado! Mas será que não recebeu? Afinal sempre foi a Moscovo, no dia em que havia jogo e afinal pode jogar, vai continuar a jogar. Francamente caro amigo. Costumo ler as suas crónica anti-sporting á sextas feiras, no JN. Nunca li nada a dizer bem. Há só porcaria no Sporting. Deixe-me que lhe diga e tenha coragem de publicar isto. Uma grande maioria dos cerca de 100 mil sócios do Sporting, são-no, não pelo Futebol, mas sim por tudo. Por isso é que costumamos dizer que somos "Clube de Portugal" e não "Futebol Clube de ..." Ajude mais o clube e não ataque tanto. Deixe que as coisas corram o seu livre curso. E lembre-se que, o Sporting não foi Campeão há alguns dias atrás, porque o Luisão (que é useiro e vezeiro nisso) deu um grande encontrão no Ricardo...
Júlio Ferreira a 1 de Abril de 2010 às 23:44

pesquisar neste blog
 
joel neto

Joel Neto nasceu em Angra do Heroísmo, em 1974. Publicou “O Terceiro Servo” (romance, 2000), “O Citroën Que Escrevia Novelas Mexicanas” (contos, 2002), “Al-Jazeera, Meu Amor” (crónicas, 2003), “José Mourinho, O Vencedor” (biografia, 2004), "Todos Nascemos Benfiquistas – Mas Depois Alguns Crescem" (crónicas, 2007) e "Crónica de Ouro do Futebol Português" (obra colectiva, 2008). Está traduzido em Inglaterra e na Polónia, editado no Brasil e representado em antologias em Espanha, Itália e Brasil, para além de Portugal. Jornalista, tem trabalhado na imprensa escrita, na televisão e na rádio, como repórter, cronista, comentador, apresentador e autor de conteúdos. (saber mais)
nas redes sociais

livros

"O Terceiro Servo",
ROMANCE,
Editorial Presença,
2000
saber mais...


"O Citroën Que Escrevia
Novelas Mexicanas",
CONTOS,
Editorial Presença,
2002
saber mais...


"Al-Jazeera, Meu Amor",
CRÓNICAS,
Editorial Prefácio
2003
saber mais...


"José Mourinho, O Vencedor",
BIOGRAFIA,
Publicaçõets Dom Quixote,
2004
saber mais...


"Todos Nascemos Benfiquistas
(Mas Depois Alguns Crescem)",
CRÓNICAS,
Esfera dos Livros,
2007
saber mais...


"Crónica de Ouro
do Futebol Português",
OBRA COLECTIVA,
Círculo de Leitores,
2008
saber mais...

arquivos
2011:

 J F M A M J J A S O N D


2010:

 J F M A M J J A S O N D


2009:

 J F M A M J J A S O N D