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05 Março 2010

1. A esmagadora (o adjectivo não é inocente) vitória do Sporting sobre o FC Porto pode trazer apensa a maior das desvantagens, mas veio mesmo a calhar. Num ano em que tudo correu absolutamente mal, um jogo em que tudo corre absolutamente bem não chega para resgatar-nos da nossa miséria, mas sempre nos fez sentir um bocadinho menos mal na nossa própria pele. Não vale a pena mistificá-lo: em condições normais, aquele era jogo para 1-0, tão poucas foram as verdadeiras oportunidades de marcar. Mas houve três golos – e, sobretudo, o Sporting jogou com uma personalidade que há muito tempo não revelava.

Vai ser duro assistir à vitória do Benfica no campeonato. Ao contrário de nós, que festejamos de longe e com ironia, os benfiquistas conseguem ficar verdadeiramente felizes – e não tarda andam para aí aos abraços, às palmadinhas nas costas e mesmo aos calduços aos rivais. Há pessoas a quem não se pode dar confiança, já sabe. Mas ainda restam jogos importantes por disputar. E, se os nossos amigos do Sp. Braga forem capazes de aguentar-se em posição até 11 de Abril, talvez ainda pudéssemos ser nós a decidir este campeonato, no derby da Luz. Que me diz, Domingos: sois homens para isso?

2. A convocação de uma equipa de juniores e emprestados para um treino de conjunto com elementos do plantel oficial, realizado na quarta-feira, pôs os jornais da especialidade em alerta: o Sporting volta a testar os talentos da sua academia, de onde têm surgido tantos e tantos talentos, em mais uma acção destinada à preparação da próxima época. De resto, o facto de a CNN, pela mão do português Pedro Pinto, ter entretanto emitido uma reportagem sobre Alcochete, já reconhecido como um dos melhores centros de formação do mundo, não contribuiu para conter a excitação.
Muito claramente: o Sporting pode incluir um ou dois elementos da formação no plantel da próxima temporada, mas não mais do que isso. Na verdade, já lá os temos a mais. Quando se olha para os grandes clubes da Europa, incluindo aqueles que melhor formação têm, a constatação é óbvia: ninguém vive à base da sua própria escola (a não ser talvez o Ajax, que como sabemos não vence um campeonato há seis anos, nem o vai vencer esta época). Investimento: eis o que precisamos. Repito: investimento. Investimento. Investimento. Investimento.

3. Quem assiste aos jogos de preparação da selecção para o Mundial não pode, de forma nenhuma, sentir-se entusiasmado. Mas também é verdade que várias das melhores selecções que anteontem disputaram jogos amigáveis empataram ou perderam, em alguns casos até frente a equipas de dimensão bem menor. Talvez seja verdade, pois, quando Carlos Queiroz diz que Portugal “resolveu muitos problemas” no jogo com a China. De qualquer maneira, e se de facto ainda há problemas (que os há, que os há…), esta é a altura de resolvê-los.
De resto, não vale a pena começar a fazer contas de cabeça e entregar o coração nas mãos de outra equipa. Mesmo os mais cínicos – inclusive os mais revoltados com esta nova moda das selecções nacionais cheias de estrangeiros, entre os quais gosto de incluir-me – vêem aquela camisola encarnada entrar em campo e de imediato são tomados pela ternura e pela paixão. E, se não o são, não podemos sentir por eles outra coisa senão pena. Portanto, venha o que vier: agora já não há regresso. Força, Portugal.

CRÓNICA DE FUTEBOL ("Futebol: Mesmo"). Jornal de Notícias, 5 de Março de 2010

publicado por JN às 09:45

Caro Joel,

É errado o que diz neste texto: «Quando se olha para os grandes clubes da Europa, incluindo aqueles que melhor formação têm, a constatação é óbvia: ninguém vive à base da sua própria escola».
O Barcelona tem, no seu plantel principal, 14 jogadores formados na "cantera". Cinco ou seis (Valdes, Piqué, Puyol, Xavi, Iniesta...) são habitualmente titulares e outros suplentes utilizados (Pedro, Busquets...). E ainda há Bojan Krkic, Jeffrén...
È claro que também investe muito. Mas isto é viver "à base" da formação. Aliás, dois destes jogadores são mesemo "a base" da equipa e dois dos melhores jogadores do mundo (Xavi e Iniesta). Isto demonstra que o número de jogadores que o SCP tem no plantel formados na Academia não é excessivo.

Abraço,
RC
RC a 5 de Março de 2010 às 10:15

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joel neto

Joel Neto nasceu em Angra do Heroísmo, em 1974. Publicou “O Terceiro Servo” (romance, 2000), “O Citroën Que Escrevia Novelas Mexicanas” (contos, 2002), “Al-Jazeera, Meu Amor” (crónicas, 2003), “José Mourinho, O Vencedor” (biografia, 2004), "Todos Nascemos Benfiquistas – Mas Depois Alguns Crescem" (crónicas, 2007) e "Crónica de Ouro do Futebol Português" (obra colectiva, 2008). Está traduzido em Inglaterra e na Polónia, editado no Brasil e representado em antologias em Espanha, Itália e Brasil, para além de Portugal. Jornalista, tem trabalhado na imprensa escrita, na televisão e na rádio, como repórter, cronista, comentador, apresentador e autor de conteúdos. (saber mais)
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